O Brasil é um país de renda média com vasta biodiversidade e ecossistemas que vão desde florestas tropicais até savanas. Uma das áreas mais carentes do Brasil está no Nordeste, onde se concentra geograficamente o semiárido, ocupando quase 1 milhão de hectares. O semiárido brasileiro é o mais populoso e o mais chuvoso do mundo. A área de estudo focal para XPaths no Brasil é a Região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, da qual 54% está no semiárido brasileiro. A Região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco tem 2.800 km de extensão, abrange seis Estados - mais o Distrito Federal. São 505 municípios, e corresponde a aproximadamente 8% do território brasileiro (CBHSF, n.d.).
O rio São Francisco tem 168 afluentes - rios menoresde água doce que estão conectados e deságua no oceano atlântico. No entanto, mais de 40% dos desses rios menores são intermitentes, desaparecendo durante a estação seca. O rio é de extrema importância para o país e para a região, ecológica, cultural e economicamente - devido também ao seu papel no fornecimento de água, alimentos e energia. A bacia do rio São Francisco abrange uma vasta área e grandes contrastes entre regiões, entre Estados, entre áreas urbanas e rurais, e também entre grupos populacionais. Os contrastes reproduzem, em grande medida, a desigualdade que ainda caracteriza a sociedade brasileira. Devido à sua diversidade e para fins de planejamento, a bacia é dividida em quatro zonas ou regiões fisiográficas: as regiões Alto, Médio, Sub-Médio e Baixo São Francisco, como ilustra o mapa.
Há uma presença mais forte de indústrias e agroindústrias nas regiões do Alto, Médio e Submédio São Francisco. A agroindústria tem seus pólos industriais de grãos e fruticultura localizados nas regiões Oeste e Norte da Bahia, respectivamente e no Sul de Pernambuco. Parte Oeste do Estado é sobreposta pela área conhecida como MATOPIBA - a mais importante área do país para a agricultura de grãos em larga escala para exportação, e que depende fortemente de modernos sistemas de irrigação. O moderno pólo de fruticultura irrigada localizado em Juazeiro, no Norte baiano e Sul pernambucano produz uva, vinho e manga para os mercados interno e externo. No entanto, mesmo nessas regiões, enquanto alguns municípios são caracterizados por um alto nível de produção agrícola e indicadores sociais comparativamente melhores, grandes desigualdades e um alto nível de conflito afetam a maioria dos municípios com persistentes problemas sociais estruturais e sistemas agropastoris tradicionais (Bouckaert et al., 2020).
Ao mesmo tempo, as frequentes secas ocasionam constantemente emergências no abastecimento de água para consumo humano. A escassez de água é agravada pela alta demanda dos sistemas de irrigação. Com isso, o principal desafio e conflitos da bacia estão relacionados ao acesso e demanda de água, pois cerca de 70% das demandas hídricas da bacia são para irrigação (ANA, 2020), com maior concentração no Médio e Sub-Médio. Como consequência, a região do Baixo - onde a socioeconomia ribeirinha ainda é fortemente ligada à agricultura familiar e à pesca artesanal – é a que mais sofre com a diminuição da quantidade de água no rio.
Outro desafio na região é a desertificação. As características ambientais e climáticas do semiárido brasileiro, associadas à superexploração dos recursos naturais (principalmente pela agricultura e pecuária) e aspectos socioeconômicos limitantes, ao longo dos anos, têm desencadeado o processo de degradação/desertificação em diversas partes da região nordeste. Finalmente, de acordo com projeções climáticas recentes, o Nordeste do Brasil será severamente afetado pelas mudanças do clima.
Em suma, no XPaths investigaremos como os ODS podem ser alcançados e o que eles significam em uma cenário tão complexo. No Brasil, trabalharemos em estreita colaboração científica com outro projeto com objetivos semelhantes, o projeto NEXUS, liderado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais.
Referências
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). (2020). Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2020: informe anual / Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Brasília: ANA.
Bouckaert, F. W., Vasconcelos, V. V., Wei, Y., Empinotti, V. L., Daniell, K. A., & Pittock, J. (2020). A diagnostic framework to assess the governance of the São Francisco River Basin Committee, Brazil. World Water Policy, 6(1), 8-37. https://doi.org/10.1002/wwp2.12022
CBHSF - Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. (n.d.) Accessed in 05/10/2021 https://cbhsaofrancisco.org.br/a-bacia/#regioes-hidrograficas
NEMUS (2016). Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco 2016-2025. Associação Executiva de Apoio à Gestão das Bacias Hidrográficas Peixe Vivo. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.http://nexus.ccst.inpe.br/
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